"Não se tem um dado de quantos foliões teremos neste carnaval. A estimativa é de que mais de 50 milhões de pessoas participem, seja em bloquinhos, seja em carnaval de desfile, seja em festas, não importa. Se a gente pensar que 50 milhões de pessoas vão brincar em dois, três dias, estamos falando de um volume enorme de pessoas que poderiam agir em prol de benefício para nós mesmos", diz.
De acordo com a especialista, para que essa mudança ocorra é necessário pensar de forma circular, ou seja, pensar que tudo que consumimos precisa voltar para o ciclo de uso de forma positiva, sem causar danos. Um exemplo, é a escolha da maquiagem no carnaval. Segundo Luciana, o produto pode ser biodegradável, feito de sementes ou outras substâncias naturais que, após o banhar, escorrem pelo ralo e não vão poluir a água e o solo.
"A gente já sabe que um dos maiores problemas que a gente tem é a poluição com plástico. Existem dados científicos da quantidade de microplásticos que está no nosso corpo de forma prejudicial. E eu convido as pessoas a pesquisar sobre isso, para que tomemos consciência. O glitter, por exemplo, nada mais é que um microplástico", explica.
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Luciana ressaltou que a escolha de levar uma garrafinha ou um copo para a folia pode evitar impacto negativo na hora de se hidratar. Assim, segundo ela, menos garrafas pet e latas de alumínio deixam de ser jogadas nas ruas. "O que a gente tem pensado com consciência e tentado fazer, é evitar produzir mais um lixo."
Luciana lembra importância de o folião levar uma bolsa ou sacola para recolher o resíduo e garantir que o material vá para o lugar certo. "Isso acontece no cotidiano da gente", disse. Ela aconselhou ainda a pessoa evitar adquirir vários produtos poluentes. "Quem sabe eu compro só uma garrafa de água e uso as bicas de água para manter a minha hidratação? Depois eu levo para casa e faço descarte," completou.
Exemplo
Em Brasília, por exemplo, o grupo performático Patubatê faz a festa de milhares de pessoas há 25 anos, tendo o cuidado de não fazer do carnaval um problema para o planeta. Com bloquinho, shows, oficinas de música e construção de instrumentos, a folia é garantida com a ideia de não gerar resíduos.
"A gente toca em tambores feitos de tonéis, latas, barras, panelas. Então, tudo que emite um som, a gente recicla para fazer música", explica o músico e fundador do grupo, Fred Magalhães.
Quando surgiu a ideia do grupo, Fred lembra que a primeira preocupação foi a sustentabilidade econômica para levar a música ao maior número de pessoas. "Muita gente gostava muito de ver a gente tocar e também queria tocar. E com uma panela, um balde, uma coisa que eu tenha em casa fica mais fácil", diz.
Quanto mais a festa ganhava as ruas, maior foi a preocupação dos integrantes com os resíduos que a folia gerava, lembra Fred. "A gente pensou: temos que reciclar os resíduos sólidos, as coisas que a gente joga fora, porque o nosso lixo não vai para a Lua, nem vai para a Marte. Então a gente tem que dar um outro destino, porque, senão, daqui a pouco a gente está nadando em lixo", afirmou.
Logo, as oficinas também passaram a ensinar como usar garrafas pet, latinhas e outros resíduos na confecção dos instrumentos. E, a cada show ou desfile de bloco, o trabalho passou a ser também de conscientizar os foliões a recolherem seus resíduos para transformá-los em algo criativo e musical.
"Já fomos para 20 países e em mais de 400 cidades do Brasil. Sempre levando essas oficinas e essa consciência de que a gente tem que reaproveitar nosso material. E, hoje em dia, nós temos uma outra coisa que é, além de reciclar o material, pensarmos também em reciclar as relações com o próximo", salientou.
Segundo Fred, a ideia também é levar as pessoas a uma reflexão sobre a importância de manter relações humanas que se sustentem ao longo do tempo. "Porque não adianta só jogar o lixo fora da forma correta se, ao mesmo tempo, eu tenho atitudes no meio da rua de agredir as pessoas, de não dar bom dia a quem trabalha comigo, ao vizinho do meu prédio, às pessoas que estão sempre comigo", frisou.
Com as iniciativas, o grupo Patubatê espera difundir cada vez mais um carnaval verdadeiramente sustentável, baseado em atitudes que sejam duradouras nos três aspectos da sustentabilidade: econômico, ambiental e social. "Obviamente que a gente não tem total controle porque no carnaval é muita gente, mas sempre estamos falando e na hora da oficina também. Falamos muito sobre isso com as crianças, a gente demonstra isso através de brincadeiras e dinâmicas", completou.
Neste carnaval de 2025, a folia do grupo Patubatê, em Brasília, começa neste sábado (1º) das 13h às 16h, em frente ao Minas Brasília Tênis Clube. "A gente vai fazer oficina, cortejo, bloquinho e bloco do Patubatê", informou Fred
Agência Brasil