A Polícia Civil de Goiás indiciou 10 pessoas suspeitas de participar de esquema que cobrava propina de pacientes para serem inseridos e furar a fila de cirurgias plásticas e eletivas feitas pela rede pública de Goiás.
Áudios anexados ao processo mostram quando um dos suspeitos garante a realização de uma cirurgia em até 6 dias em troca de dinheiro.
"Eu arranjei uma mulher que está saindo a cirurgia assim. Claro que tem que pagar um pouco para ela. Mas vesícula, hérnia, Araújo Jorge, ortopedia, tudo. Se você tiver algum aí, passa pra mim que nós ganharemos um trocado. Pode passar sem medo de errar. É 5, 6 dias e está operando", disse o suspeito.
Entre os indiciados estão vereador de São Miguel do Araguaia Joubert Tolentino Meira (Cidadania) e o ex-Prefeito de Teresina de Goiás, Odete Teixeira Magalhães.
A advogada Fabiana Castro, que representa Joubert Meira e Odete Magalhães, afirmou que a defesa irá manifestar quando o inquérito for remetido ao judiciário, pois até o momento não foi possível ter acesso ao conteúdo.
O delegado responsável pelo caso, Danilo Victor Nunes, afirmou que entre os indiciados estão outros agentes públicos. Segundo ele, diversas pessoas pagaram propina para intermediários e operadores do sistema de regulação médica, para que pudessem realizar cirurgias pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Somente um dos envolvidos teria sido responsável por realizar quase 2 mil inserções no sistema, só nos últimos seis meses do ano de 2022.
O grupo foi indiciado por associação criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva, tráfico de influência, inserção de dados falsos em sistema de informação e posse de apetrechos para falsificação.
Como funcionava
Segundo a polícia, as irregularidades aconteciam principalmente para cirurgias plásticas, como abdominoplastia e mamoplastia. Porém, outras cirurgias eletivas, consultas médicas, exames e internações também eram fraudados.
Segundo a Polícia Civil, o grupo atuava em Goiânia e em diversos municípios de Goiás, com a captação de pacientes e inserção de dados falsos no sistema de regulação médica, com o objetivo de priorizá-los na realização de cirurgias, a maioria estéticas. Essas pessoas estavam fora dos critérios exigidos para a realização do procedimento.
Foi verificado que o grupo criminoso atuava não somente no âmbito do sistema de regulação, mas também mediante acesso a outros sistemas de outras unidades de saúde, inclusive havendo casos de compras de senhas para acesso indevido.
A polícia informou que as fraudes aconteciam pelo menos desde 2020. Segundo o delegado Danilo Victor Nunes os políticos investigados atuavam como intermediadores no esquema. "Geralmente o paciente pagava para eles e aí essa pessoa providenciava, junto a um operador do sistema, para que inserisse as pessoas", disse.
"Na maioria eram procedimentos estéticos por meio de uma justificativa médica falsa. Por exemplo, uma pessoa que quer fazer uma mamoplastia conseguia que o operador do sistema alterasse essa justificativa, fraudasse isso, e inserisse com um fundamento plausível para a cirurgia, sendo que a pessoa não sofreu nenhum tipo de câncer ou doença", disse.
Fonte: G1