O Cinequelipe, situado em Campos Belos, GO, emerge como um exemplo flagrante de como uma abordagem empresarial desconectada pode minar até mesmo os empreendimentos mais ambiciosos. Desde sua concepção, o cinema parece ter sido lançado sem um estudo prévio adequado sobre o mercado local e as preferências da comunidade, resultando em uma série de desafios desde sua inauguração.
O fracasso inicial da abertura do Cinequelipe foi um alerta claro sobre a falta de alinhamento entre o empreendimento e a realidade cultural da cidade. Campos Belos, situada a 400 km de Brasília, não possui uma tradição enraizada de frequentar cinemas, a menos que os residentes façam viagens para as grandes capitais. Essa lacuna de compreensão levou a uma luta constante para atrair espectadores desde o início.
Após um período tumultuado de operação, que quase resultou no fechamento do cinema, uma campanha de resgate foi lançada. O proprietário, em um gesto aparentemente benevolente, reduziu temporariamente os preços dos ingressos, o que resultou em um aumento na frequência dos espectadores. No entanto, assim que a meta estabelecida foi alcançada, os preços foram rapidamente elevados novamente para R$ 40,00, e o ciclo de problemas persistiu.
Uma questão que revela a desconexão entre o cinema e a comunidade é a resposta recebida por um morador local em relação aos preços dos ingressos. Sugerir uma redução para tornar o cinema mais acessível foi recebido com uma resposta arrogante e insensível, demonstrando uma falta de empatia e flexibilidade por parte do proprietário. A mensagem enviada pelo cinema no grupo de WhatsApp, afirmando que "NESSA CIDADE AÍ NEM SE DER INGRESSO DE GRAÇA O POVO VAI AO CINEMA", ecoa uma mentalidade fechada e uma falta de vontade de se adaptar às necessidades da comunidade.
Essa atitude inflexível, combinada com a falta de variedade na programação e uma estrutura física limitada, deixa claro que o Cinequelipe está destinado a lutar contra ventos contrários. A cidade de Campos Belos perde uma oportunidade valiosa de enriquecer sua vida cultural com um cinema vibrante e acessível, enquanto o próprio cinema enfrenta um futuro incerto devido a sua postura empresarial inflexível.
No final das contas, é a comunidade local que perde mais nessa história. A falta de um cinema de qualidade e acessível priva os residentes de uma forma importante de entretenimento e cultura, enquanto o Cinequelipe, ao se recusar a se adaptar, parece destinado a se tornar uma nota de rodapé triste na história cultural da região. Resta esperar que os gestores do cinema reconheçam a necessidade urgente de uma mudança de atitude e abordagem antes que seja tarde demais.