Estudantes do 7º ano do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 213 de Santa Maria, uma escola pública do Distrito Federal, criaram uma solução para driblar as dificuldades de comunicação de uma colega com paralisia cerebral. A "Voz de Ana", como foi chamado o protótipo, permite que Ana Vitória, de 12 anos, se comunique com os colegas.
A paralisia cerebral é uma deficiência caracterizada por alterações neurológicas permanentes que afetam o desenvolvimento motor e cognitivo. No caso de Ana Vitória, que está em uma classe regular de ensino, a inclusão contou com a junção do projeto Roboticraf, da unidade de ensino, e o M²CE, da Universidade de Brasília (UnB), que estimula mulheres a se interessarem pelas ciências exatas, promovendo maior presença delas nesta área do conhecimento.
O professor William Viera percebeu que mesmo sem falar, Ana Vitória tem extrema facilidade com a escrita e a leitura. A partir daí, a menina passou a usar um tablet da escola e o professor propôs um desafio às colegas: Que tal dar voz à Ana, por meio de um dispositivo tecnológico, e permitir uma maior interação em sala de aula?
"Ao trazer o tablet para a Ana, percebi a habilidade que ela tinha em escrever e ler rapidamente com o programa [...] eu levei essa questão para as meninas do projeto, e elas já se empolgaram em tentar resolver essa situação. Começamos a estudar sobre o programa mais profundamente", conta o professor.
ara produzir o equipamento, a base foi o programa Scratch – uma linguagem de programação que permite a criação de histórias, animações, jogos e outras produções. Coube às colegas de Ana desenvolver habilidades em programação e pensar também na engenharia do equipamento, que no começo foi feito com papelão (veja imagem mais abaixo).
Um grupo formado por 11 adolescentes criou o dispositivo de voz que foi adaptado a um teclado. Por meio do teclado, Ana pode tanto digitar o que quiser quanto apertar botões na interface inicial, que dão respostas usadas frequentemente de maneira mais ágil.
"Quando nós apresentamos o equipamento, ela [Ana} rapidamente começou a digitar e escrever coisas que estavam na cabecinha dela, e nós percebemos como a Ana enxergava o mundo. Ela começou a interagir em sala de aula, conversar com os professores, falar o nome dos colegas", diz o professor.
Equipamento desenvolvido pelas alunas teve versão teste em papelão para criar a "Voz da Ana" — Foto: TV Globo
Com o tempo, Ana passou a interagir tanto com a turma que até ajudava a fazer a chamada. "Isso fez com que ela começasse a entender melhor e participar mais do processo de ensino-aprendizagem", diz o professor William Viera.
"Um exemplo inspirador de inclusão, que reflete o poder da tecnologia e da colaboração na transformação de realidades e na construção de um ambiente educacional mais acolhedor", diz o professor.
Para a mãe da Ana, Rejane Soares, o projeto traz benefícios que vão além da sala de aula.
"É gratificante ver que ela está inclusa e junto com a turma. Ela tem mais vontade de estar na escola, quer fazer as atividades", afirma Rejane.